/Há 10 mil anos atrás

Data: 
11/09/2019
Autor: 
Suzana Kahn

A ciência e a tecnologia, tão negligenciadas no Brasil, modificaram a história da humanidade. Há cerca de 10 mil anos os seres humanos aprenderam a manipular algumas espécies de plantas e animais, promovendo a chamada Revolução Agrícola. A ciência e a tecnologia empregadas para promover tal revolução foram determinantes para redirecionar os rumos da sociedade. Mais recentemente, há 500 anos, ocorreu a Revolução Científica, cuja paternidade é atribuída a Galileu Galilei. Esta se encontra em permanente evolução, incluindo desde as tecnologias que permitiram a Revolução Industrial, com máquinas que transformaram os processos produtivos, até a recente transformação digital, com internet, robótica, entre outras inovações que apontam uma sociedade completamente diferente da que conhecemos.

O avanço do conhecimento requer ausência de preconceito, mente curiosa, crítica e questionadora. Exige sintonia para estabelecimento de pontes entre presente e futuro. No século XVIII, não existia uma percepção dos limites ambientais do planeta. Hoje, constata-se escassez de praticamente todos os recursos naturais, trazendo à tona realidades que não eram reconhecidas naquele século.  É necessário fazer uso eficiente desses recursos, estimular o seu reuso, a regeneração do ambiente, ou ainda a substituição dos recursos finitos. E tudo isso só será eficaz com a inclusão de toda a sociedade, não apenas de uma parcela dela. O atual momento requer uma mudança radical na trajetória de desenvolvimento, exigindo pesquisas científicas e soluções tecnológicas que incorporem os novos desafios.

É espantoso o que presenciamos hoje em nosso país: desafios ambientais são subestimados, a ciência é questionada, cortes substanciais são feitos nos orçamentos das universidades e órgãos de pesquisa. Os 10 mil anos de história não estão sendo suficientes para compreensão da importância da ciência e tecnologia para o progresso humano.

 

*Vice-diretora da Coppe/UFRJ

*Publicado no Jornal O Globo, em 07 de setembro de 2019

Data de Atualizacao: 
11/09/2019