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/Hormônios no rio Paraíba do Sul é tema de palestra na Coppe

  • Palestrantes: Márcia Dezotti
  • Local: Auditório da Coppe, bloco G, sala 122, Centro de Tecnologia, Cidade Universitária – Ilha do Fundão
  • Data: 27/05/2010
  • Hora: 14:00

Pesquisa realizada na Coppe durante quatro anos constatou a presença de atividade biológica hormonal na água não tratada do rio Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, o que coloca em risco a saúde da população. Para mostrar as técnicas ideais para a remoção desses poluentes, a professora do Programa de Engenharia Química da Coppe, Márcia Dezotti, vai proferir no dia 27 de maio, às 14 horas, a palestra Presença e Remoção de Hormônios em Águas – Levantamento da Atividade Estrogênica no Rio Paraíba do Sul. O evento vai ser realizado no auditório da Coppe, no Centro de Tecnologia, bloco G, sala 122, Cidade Universitária.

De acordo com a pesquisa, a região do Vale do Médio Paraíba, que abrange as cidades de Resende, Volta Redonda e Barra Mansa, no estado fluminense, é a que apresenta a situação mais crítica. Neste trecho, um número significativo de amostras recolhidas e analisadas pela aluna de doutorado do Programa de Engenharia Química da Coppe, Amanda Cristina Vieira Dias, apresentou índice de atividade hormonal equivalente a presença de mais de um nanograma de estradiol por litro na água não tratada. Segundo a professora Márcia Dezotti, coordenadora do estudo, o estradiol é um hormônio capaz de alterar o funcionamento do sistema reprodutor de homens e animais “O índice detectado nas amostras é suficiente para gerar distúrbios no sistema endócrino de seres humanos e provocar, por exemplo, a feminização de peixes. Mesmo em baixa concentração, o estradiol aumenta o risco de doenças como câncer de próstata, mama e útero, e pode ocasionar infertilidade”, adverte a professora.

Os pesquisadores da Coppe apontam como solução o uso combinado de cloro com ozônio. Nos testes realizados no Laboratório de Controle da Poluição das Águas da Coppe, coordenado por Márcia Dezotti, as técnicas oxidativas que empregam o cloro ativo e o ozônio conseguiram reduzir, a níveis satisfatórios, a atividade hormonal presente na água coletada. Segundo Amanda, o uso do ozônio se mostrou eficaz, devido à baixa dosagem necessária para a remoção completa das atividades hormonais e pelo fato de não deixar resíduo na água.

“A implantação da ozonização em centrais de tratamento aumenta a qualidade da água, por se tratar de uma técnica capaz de promover o controle dos níveis de diversas classes de micropoluentes, além de contribuir para a desinfecção da água. A técnica, que vem sendo usada com sucesso na Europa, foi por nós adaptada para ser aplicada na região do Paraíba”, explica Amanda, que vai defender sua tese de doutorado sobre o tema, ainda este ano.

A professora Márcia Dezotti adverte que a tendência é que esse tipo de poluição aumente cada vez mais, pelo uso constante de remédios e produtos químicos, que incluem até mesmo produtos de limpeza, desinfetantes e cosméticos. São produtos que apresentam atividade biológica, mesmo em baixa concentração. Segundo Dezotti, no exterior o descarte dessas substâncias nos rios é motivo de preocupação de governos. “No Brasil, as estações de tratamento precisam ser modernizadas. Ainda hoje elas utilizam os mesmos métodos e tecnologias adotados na década de 50. Nesta época, a população era bem menor e nos últimos 50 anos surgiram uma enorme quantidade de novos produtos, principalmente os produzidos pela indústria química. Eliminar essas substâncias na água requer tratamentos especiais”, alerta.

O percurso dos poluentes emergentes

Os hormônios podem se produzidos pelo próprio organismo ou ingeridos por meio de medicamentos, a exemplo dos anticoncepcionais. Parte é eliminada na urina e nas fezes e, no caso de fármacos como os antibióticos, por exemplo, cerca de 80% são descartados pelo organismo ainda na sua forma ativa. Segundo a professora Dezotti, o problema é que as técnicas tradicionais utilizadas nas centrais de tratamento de esgoto não conseguem remover completamente essas substâncias. Por isso, ao serem descartados, os hormônios se mantêm com atividade biológica nos corpos hídricos. Em várias amostras coletadas durante a pesquisa no rio Paraíba, os hormônios estavam associados à proteínas, que é a forma como são eliminados pelo organismo. “Essa associação indica duas possibilidades: ou o esgoto foi despejado no rio, in natura, sem ser tratado, ou a estação de tratamento não está sendo eficaz”, afirma.

Ao serem liberados nos rios, os hormônios se fixam em substâncias que podem ser ingeridas pelos peixes e, posteriormente, pelo homem. Também podem contaminar as águas de municípios vizinhos que são captadas para o consumo. Nesse caso, se a estação de tratamento de água desse município não usar métodos eficazes para eliminar os hormônios, seus habitantes vão consumi-los.

“No estado do Rio de Janeiro somente de 30 a 35% do esgoto é tratado. A situação vem se agravando nas últimas décadas com o surgimento de novos medicamentos e de produtos químicos que são resistentes ao tratamento convencional adotado nas estações de tratamento. Os remédios descartados como lixo comun são diluídos no chorume e acabam chegando aos rios, principalmente por meio da água da chuva”, explica a professora.

Para atacar esse problema, Dezotti defende a implantação no Brasil de um sistema de descarte e coleta especial para medicamentos não utilizados, como já ocorre em outros países, principalmente da Europa.

  • Publicado em - 28/04/2014