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/Glória Soares: engenheira social e da saúde
Carioca, nascida no bairro do Flamengo, onde passou parte de sua infância e adolescência, Glória Dulce de Almeida Soares concluiu o curso de normalista, foi professora primária e, contrariando a opinião da família, que torcia para que ela cursasse medicina, optou mesmo pela engenharia. Mas, por acaso ou por destino, foi seduzida pela área de biomateriais, sua principal linha de pesquisa, e hoje vive cercada de profissionais da área de saúde, médicos e dentistas, seus alunos de mestrado e doutorado no Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe.
Formada em engenharia metalúrgica, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1976, Glória concluiu o mestrado e o doutorado no Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PEMM), da Coppe, respectivamente em 1982 e 1990, e passou duas temporadas na University of British Columbia (UBC), no Canadá, onde atuou como professora visitante, em 1987 e 1989, como parte do doutorado-sanduíche.
Sob a orientação dos professores da Coppe Tito Luiz da Silveira da engenharia mecânica da Escola Politécnica, e Luiz Henrique de Almeida, da engenharia metalúrgica, desenvolveu no seu doutorado estudos de materiais na área de petroquímica. Mas foi seu primeiro aluno de doutorado, Marcelo Prado, hoje professor do Instituto Militar de Engenharia (IME), que insistiu em 1995 em fazer um trabalho de tese sobre biomateriais, uma área nova que exigiria ainda muita pesquisa e investigação. Em resumo, foi literalmente fisgada pelo desafio.
Docente da Escola de Engenharia da UFRJ desde 1981, Glória ingressou na Coppe, em 1981, como técnica de nível superior, e como professora, em 1990. Seus estudos em biomateriais metálicos e cerâmicos, nanoestruturados, recobrimentos bioativos, entre outros, já resultaram na orientação de 26 dissertações de mestrado, 13 teses de doutorado e na supervisão de três pesquisadores de pós-doutorado. É autora do livro Fundição: mercado, processos e metalurgia e de 95 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Possui 105 trabalhos publicados em congressos, 325 citações no Web of Science e 443 no Scopus. Também é membro do corpo editorial do periódico Innovations Implant Journal – Biomaterials and Esthetics e revisora técnica de outros 19 periódicos, sendo 16 internacionais.

“Foi uma verdadeira revolução quando o professor Fernando Luiz Bastian, na época coordenador acadêmico do PEMM, permitiu o ingresso de dois dentistas para cursar o mestrado”, brinca a professora. Desde então, segundo ela, cresce o número de químicos, biólogos, médicos, fisioterapeutas e, principalmente, dentistas interessados nos cursos de mestrado e doutorado em biomateriais oferecidos pelo programa da Coppe. Atualmente, do total de 26 mestres que orientou, 12 são dentistas.
“O trabalho com biomateriais rompeu a fronteira brasileira. Como parte do doutorado-sanduíche, alguns alunos estão realizando pesquisas em institutos conceituados, em outros países, como o Instituto de Ciências de Materiais de Mulhouse - França e Universidade de Nova York”, acrescenta a docente com orgulho.
“O professor Tsuneharu Ogasawara foi um dos primeiros a orientar dentistas em nosso programa”, lembra emocionada a atuação pioneira do colega de programa que faleceu subitamente em setembro deste ano e que sempre a apoiou.
Premiada duas vezes em 2010
Glória é convicta de que o destino acabou unindo todos os desejos, tanto na vida pessoal como em suas atividades profissionais. “Os estudos com biomateriais trouxeram a esperança de cura de muitas doenças de difícil tratamento, principalmente para a população de baixa renda”, afirma a professora que há dez anos participa de um projeto voluntário na Rocinha, trabalhando no setor de terapia. Mesmo sendo a única engenheira no setor, Glória diz que seu trabalho é reconhecido pelos assistidos e se sente recompensada por isso, ensinando o que sabe e aprendendo mais ainda com eles.
Filha de Alberto Brasil de Almeida e Stella de Almeida, Glória tem três filhos, Bruno (33), Viviane (31) e Ana Clara (20), gerada durante o doutorado em 1990, e é casada com Cláudio César Pinto Soares, professor da faculdade de Belas Artes da UFRJ.
“Sempre contei com o apoio da minha família, que é muito unida, incluindo minha irmã Mirtes e meu cunhado Leo, sempre próximos”, ressalta Glória, que em 2010 foi agraciada com dois prêmios: o Giulio Massarani de Mérito Acadêmico, concedido pela Coppe, e seu primeiro neto Rafael, filho de Viviane e Alex, que nasceu em 13 de outubro, um dia antes de a avó completar 60 anos, muito bem vividos.
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Publicado em - 03/11/2010