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/Helcio Orlande: um craque dos problemas inversos
Carioca, Helcio Rangel Barreto Orlande, 53 anos, nasceu em uma família de apaixonados por veículos automotores. Filho de um engenheiro, viu na Engenharia uma escolha natural. Com uma trajetória de sucesso na academia, tornou-se referência no estudo de Problemas Inversos em Transferência de Calor.
Graduado em Engenharia Mecânica na turma “Mel & Açucar”, pela UFRJ (1987), concluiu o mestrado no Programa de Engenharia Mecânica da Coppe, em 1989, sob a orientação do professor Leopoldo Bastos, e o doutorado na North Carolina State University (NCSU), em 1993, sob a orientação do professor M. N. Özisik. Fez pós-doutorado na University of Texas at Arlington (UTA), em 2003, e na Florida International University (FIU), em 2008. As três instituições, nos Estados Unidos.
Ingressou como docente na Coppe em 1997, como professor adjunto e, em 2010, passou a Professor Associado. Em 2013 passou a integrar o quadro de professores do Programa de Engenharia da Nanotecnologia, criado no mesmo ano.
Pesquisador 1A do CNPq, recebeu, como orientador, em 2010, o Prêmio Capes de melhor tese na área Engenharias III, defendida pela então aluna Carolina Palma Naveira Cotta, hoje professora e sua colega de programa, também contemplada nessa edição com o Prêmio de Mérito Acadêmico. Recebeu também como orientador o Prêmio ABCM-Embraer (2012) pela tese de doutorado defendida por seu aluno Henrique Massard da Fonseca, e o Prêmio de Melhor Tese de Doutorado (2007) concedido pela Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas (ABCM) ao aluno Olivier Jacques-Marie Wellele, que com o mesmo trabalho recebeu Menção Honrosa no Prêmio Capes – Engenharias III de 2008.
Vocação natural
A opção pela Engenharia não foi difícil para Helcio Orlande. Compartilha a paixão da família pelos carros. O avô materno, Laerte Barreto, era motorista de caminhão. O avô paterno, Arthur Orlande, tinha oficina mecânica. “Na época, quem gostasse de carro tentaria cursar Engenharia Mecânica. Meu pai era engenheiro eletricista. Então, a Engenharia foi uma escolha natural. Escolhi a Engenharia Mecânica porque sempre me atraiu muito o funcionamento do motor, mais os aspectos termodinâmicos do que a parte puramente mecânica do mesmo. Por isso, desde cedo optei por transferência de calor e termodinâmica”, relata.
Foi bolsista de Iniciação Científica, no Laboratório de Mecânica dos Fluidos e Aerodinâmica, sob a supervisão do professor Miguel Hirata, e depois estagiou por três anos no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), no qual trabalhou com resfriamento de equipamentos eletrônicos.
Ao concluir a graduação, recebeu ofertas de trabalho, mas preferiu tentar direto o mestrado. No entanto, quase largou o curso. “Eu me animei mais quando entrei na dissertação... É muito difícil, pois você vê todos seus amigos com emprego, já tendo uma vida profissional e você ainda se sente estudante. A vida profissional acadêmica começa tarde, começa quando você termina o doutorado, que não é o fim, mas o início. Até concluí-lo, você está se formando. Quando você começa de fato a sua vida acadêmica, seus colegas de turma já estão trabalhando há seis anos. Deu uma crise existencial (risos), fiquei meio chateado um tempo. Depois, fui direto para o doutorado. Leopoldo Bastos foi meu orientador no mestrado, mas quem me ajudou muito para ir ao doutorado foi o Renato Cotta. Se fui fazer o doutorado aonde fui, a culpa é dele”, brinca.
As parcerias na vida acadêmica
O professor Cotta começou a lecionar na Coppe, em 1987, justamente quando Helcio iniciava o mestrado. Ambos foram orientados no doutorado pelo mesmo professor: o cientista turco, M. Necati Özisik (1923-2008), formado na Inglaterra, cuja carreira acadêmica foi construída nos EUA. “O Renato foi meu grande mentor, devo muito a ele. No início ele me ajudou muito, convidando-me para orientar alunos com ele, me passando alunos de iniciação científica. Participei dos trabalhos aqui no laboratório. Somos muito amigos”, reconhece Helcio.
“Fui estudar com Özisik essa classe de problemas, que estudo até hoje, denominada Problemas Inversos. Trata-se, sobretudo, da realização de medidas indiretas, de usar medidas de uma variável dependente, a resposta de um sistema físico, e um modelo matemático, para identificar uma variável que não pode ser diretamente medida. Isso está associado a muitas coisas na nossa vida, que as pessoas nem sabem. Eu trabalho com isso, com foco em transferência de calor, embora faça outros estudos na área biomédica. A reconstrução de imagens em tomografia ou ressonância magnética é a solução de problemas inversos”, explica.
Em 1994, retornou à Coppe, como bolsista recém-doutor, e após três anos com contrato temporário foi aprovado em concurso e admitido como professor adjunto. Em agosto de 1997 tomou posse como docente do Departamento de Mecânica da Escola Politécnica e do Programa de Engenharia da Coppe, onde também atua no recém-criado Programa de Engenharia de Nanotecnologia (PENt), tendo orientado a primeira tese de doutorado defendida no Programa, este ano, pelo aluno Bruno Jaccoud. Intitulada “Estimativa de Estado no Armazenamento Térmico em Materiais de Mudança de Fase Contendo Nanopartículas”, a tese teve como coorientador o professor Marcelo Colaço, também do Programa de Engenharia Mecânica.
Segundo o professor, a sua colaboração com o PENt foi limitada, devido aos seus compromissos como coordenador da Área de Engenharias III da Capes, à frente da qual esteve entre 2014 até fevereiro de 2018.
Ao deixar a coordenação da Capes, não assumiu compromisso extra. “O meu compromisso é aqui, com o Laboratório de Tecnologia e Transferência de Calor. O que me deixa feliz é ficar aqui”, ressaltou Helcio, que desde 2012 coordena esse laboratório. Desde que ingressou no corpo docente da Coppe, se ausentou apenas por períodos curtos, para desenvolver pesquisas na sua área preferida, Problemas Inversos, em nível de pós-doutorado, com o amigo George Dulikravich, na University of Texas at Arlington (UTA), em 2003, e na Florida International University (FIU), em 2008, ambas nos Estados Unidos.
Paixão no futebol
Filho de Helcio Orlande e Magali Rangel Barreto Orlande, Helcio, sempre morou no Rio de Janeiro, exceto por dois períodos: em 1977-78, quando acompanhou o pai em mudança a Florianópolis, e quando fez seu doutorado, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Tijucano, nasceu em 9 de março de 1965, quase coincidindo o seu aniversário com o do maior ídolo do clube do seu coração, Arthur Coimbra, conhecido pela nação rubro-negra e por todos os fãs do futebol bem jogado, como Zico.
Como no País Tropical, de Jorge Ben Jor, é flamenguista e tem uma esposa chamada Teresa, com quem é casado há 29 anos. Mas o namoro começou há 38 anos, quando ainda colegas no Colégio Marista São José. Teresa é professora de Geografia, graduada pela UFRJ, Mestre em Engenharia Florestal, pela North Carolina State University, e em Educação, pela UFRJ. Segundo Helcio, sua grande parceira que, desde o começo, o incentivou a seguir a carreira acadêmica.
Pai de Fernanda, 24 anos, formada em Economia, pela UFRJ, e Arthur José, 22, que como a irmã concluirá o mesmo curso, na UFRJ, no próximo semestre, Helcio diz que tentou não influenciá-los na escolha profissional.
Na profissão, fizeram outra escolha, mas no futebol os filhos seguiram pai. “Minha família é toda flamenguista. Meus filhos são flamenguistas, claro. Lá não tem essa opção de torcer para outro time não”, afirmou Helcio, que já foi mais assíduo nos estádios. “Eu ia muito com o meu filho, quando ele era pequeno, e com o meu pai. Vou pouco agora. O Maracanã perdeu o glamour, e ficou caro”.
O professor diz que gosta de ler nas horas vagas, mas admite que quem faz a seleção dos livros é a esposa. “O que ela lê, e gosta, eu leio depois. Meus filhos me dão indicações também. Gosto de livros com viés histórico, mas leio romances também. Sou leitor de horas vagas. Não tenho livro nem autor favorito. Não sou um leitor voraz”.
Amante da música, é fã de grandes nomes da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento (seu favorito). Mente sã em corpo são, Helcio concilia o labor intelectual com atividade física. Pratica corrida e natação desde a juventude, quando fazia aulas no Tijuca Tênis Clube, e até hoje, seja no clube ou na praia. Era goleiro nos campeonatos de futebol society, no mesmo clube, inspirado pelo ídolo Zé Carlos, que guardava as redes do Flamengo dos anos 1980. Mas uma lesão, seguida de longa recuperação na fisioterapia, o afastou das quadras.
Detalhes da trajetória acadêmica no Currículo Lattes.
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Publicado em - 01/11/2018