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/Nelson Ebecken: um sonhador Vitorioso
Nos idos dos anos 70, a COPPE se orgulhava de ter um time de basquete imbatível, que regularmente faturava o campeonato interno da UFRJ. Após 30 anos, poucos se lembram da escalação da equipe, mas muitos dos craques continuam marcando pontos para a COPPE. Um deles é o armador do time campeão, Nelson Ebecken, do Programa de Engenharia Civil, um dos "cestinhas" da instituição.
Professor Titular desde 1981, Ebecken tem mais de 300 trabalhos publicados em Comgressos Nacionais e Internacionais. Assessor científico e consultor da FAPERJ e FINEP, e consultor do CNPq, é autor de 32 artigos, publicados em revistas nacionais, e 64 em periódicos internacionais. O professor, que já orientou 77 dissertações de Mestrado e 51 teses de doutorado, foi um dos fundadores do Núcleo de Computação de Alto Desempenho (NACAD), da COPPE.
Sua carreira acadêmica começou em 72, na graduação da Escola de Engenharia da UFRJ e continua na pós-graduação da COPPE. Ao se formar em engenharia civil pela UFF em 70, o interesse de Ebecken pelo trabalho como engenheiro em firmas de construção era nenhum, tanto que sequer chegou a fazer estágio. Num época em que diploma de engenheiro era garantia de emprego bem pago no setor privado, optou pela pequisa, entusiasmado por uma palestra do Prof. Bevilacqua sobre a COPPE, proferida na UFF. "Eu tive a sorte de descobrir a área de computação na época em que estava em pleno desenvolvimento e, com a aproximação da COPPE com a Petrobras em 77, vi que a computação tinha ampla aplicação em projetos, e resolvi ficar", explica.
Lutando o bom combate
A preferência pela pesquisa e o desinteresse pelo trabalho em firmas de engenharia foi também uma questão de filosofia de vida. "Eu vim para a COPPE porque era um sonhador", assume. Típico representante da geração 68, aos 20 anos morava numa república de estudantes na Ilha do Governador. Mais tarde, morando em Copacabana, praticava surf, e freqüentava o teatro da praça Cardeal Arcoverde, onde testemunhou os primeiros tropeços de atores hoje consagrados. Como a maioria de sua geração, não fugiu ao batismo da militância política: participou de comícios, fugiu da polícia e por puro acaso escapou de ser preso no malfadado Congresso de Ibiúna. "Eu vivi a melhor época", lembra com satisfação "mas conheci muitas pessoas que se perderam".
Dentro do espírito libertário da época, chegou a pensar em estudar sociologia, mas a atração pela área tecnológica foi mais forte. Ao tentar se inscrever no vestibular de um famoso instituto de tecnologia, foi barrado na guarita por não estar usando meias, e decidiu estudar num lugar mais liberal, a UFF. Já na COPPE, o bom trabalho com a modelagem numérica via o método dos elementos finitos chamou a atenção de um professor americano, o que resultou num convite para trabalhar em Austin, Texas. A oferta foi recusada depois da primeira visita à cidade.
Foram muitas as propostas que recebeu e recusou para largar a COPPE, mas sempre pesou a favor da decisão de ficar a possibilidade de aplicar sua pesquisa em projetos, o que só foi possível através da atuação da COPPETEC. "Minha vida profissional foi construída na COPPETEC", revela. "Eu não conseguiria ter contato com aplicações e projetos de outra maneira." . Até o momento, Ebecken já participou de 226 projetos pela Fundação COPPETEC, a maioria ligado à tecnologia offshore. Nos últimos cinco anos, o pesquisador tem se dedicado a aplicações tecnológicas da inteligência artificial na engenharia. "Não sou um cara teórico, mas sempre trabalhei na parte computacional aplicada.
Os difíceis novos tempos
O contato com projetos também possibilitou apresentar exemplos práticos aos alunos. "Eu acredito que mesmo na graduação o aluno precisa conhecer a aplicação do que está estudando, para não achar que está aprendendo coisas de que não vai precisar". A preocupação natural com o sucesso dos alunos tem crescido nos últimos tempos. "Hoje a pessoa termina a faculdade tensa, se sentindo pressionada, não tem a leveza do estudante da minha geração", observa. E para quem se beneficiou das boas escolas públicas, incomoda assistir ao desmonte da universidade pública. "Eu não teria estudado se não fosse pela escola pública", revela "Eu acho que a população deve brigar para preservar o ensino gratuito", defende.
Não por acaso, sua filha estudou no CAP (Colégio de Aplicação da UFRJ), onde para o espanto do pai, após participar de algumas aulas dissecando cobaias em laboratórios, optou pela medicina. "Ela gostava de cortar ratos, não queria nada com a engenharia", brinca. Mas se os caminhos profissionais não coincidem, em outras áreas pai e filha têm total afinidade, como no Carnaval, quando toda a família sai fantasiada, na Mangueira.
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Publicado em - 23/05/2005