Lista completa

/Perfil


/Rosa Mattos: de anti-herói a pesquisador bem-sucedido

"Sou um perfeito anti-herói" - define-se o engenheiro Oscar Rosa Mattos ao falar sobre sua escolha profissional. Professor do Programa de Engenharia Metalúrgica e Materiais da COPPE, Rosa Mattos afirma não ter tido a engenharia como meta desde criança. O professor revela que sua escolha pela engenharia foi quase que ocasional. "Como eu gostava de tudo, quem terminou decidindo por mim foi a secretária. Ela olhou meu boletim e viu que minhas notas eram maiores em ciências, aí ela marcou engenharia", afirma. Rosa Mattos é ex-aluno do Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, colégio por onde também passaram outros pesquisadores que se destacam na COPPE, como Nelson Ebecken, Ricardo Cotta e Sérgio Sphaier. Reconhecida na época como uma instituição de ensino experimental, a maioria dos alunos do Liceu optavam por medicina ou engenharia, a partir do segundo ano do segundo grau.

Mas ao entrar na universidade o atual Chefe do Laboratório de Corrosão Prof. Manoel de Castro sabia muito bem o que não queria. Desistiu do curso de engenharia eletrônica após a primeira aula. "O professor começou a explicar o funcionamento das válvulas, uma coisa ultrapassada na época. Eu já tinha visto transístor no curso técnico e, por isso, decidi estudar engenharia metalúrgica e de materiais. Como sempre gostei muito de matemática e eletrônica, terminei especializando - me em eletro- química /corrosão", resume.

A vocação para a carreira científica se torna ainda mais evidente em 1973, ao ser selecionado como estagiário de Iniciação Científica no Laboratório de Corrosão da COPPE. Já em 1975 Oscar Rosa Mattos tornou-se membro do quadro docente da instituição, onde ingressou como Auxiliar de Ensino. Ao terminar o mestrado na COPPE partiu para o doutorado na França, na Université de Paris VI.

Professor do Programa de Engenharia Metálúrgica e de Materiais da COPPE, Oscar Rosa Mattos recebeu da instituição o "Prêmio Mérito Acadêmico 2000". Este prêmio foi criado pela instituição, no intuito de homenagear docentes que se destacam por sua produção científica e acadêmica.

"Uma das influências decisivas na minha carreira foi o Prof. Manoel de Castro, meu orientador durante a Iniciação Científica e a tese de mestrado" - confessa. O Prof. Manoel trabalhou no Laboratório de Corrosão até seu falecimento, em 1984. Posteriormente o laboratório foi batizado com seu nome, uma homenagem prestada pelo programa em 1989.

Múltiplas Atividades

Ensino, pesquisa, projetos de consultoria, nenhuma das atividades é privilegiada. Segundo o pesquisador o segredo para conseguir administrar todas as atividades é integrá-las. "Meus alunos trabalham nos projetos e desenvolvem suas teses paralelamente", explica. Atualmente, além de dar aulas na graduação e na pós, orienta nada menos que 8 teses (2 de mestrado e 6 de doutorado), publicou nos últimos cinco anos 18 artigos em revistas especializadas internacionais, tendo prevista a publicação de mais cinco em 2001 e ainda está envolvido em cinco projetos de consultoria, feitos através da Fundação COPPETEC.

Rosa Mattos revela o espírito coletivo do seu grupo de trabalho. "Temos um pacto aqui no laboratório. Todo o dinheiro que arrecadamos com projetos é revertido para o grupo, seja financiando a manutenção ou compra de novos equipamentos, viabilizando a participação dos pesquisadores em congressos ou publicando os trabalhos aqui produzidos" e reafirma "Não há ganho financeiro direto do pessoal envolvido" explica. As atividades do laboratório se voltam principalmente para o trabalho teórico/experimental, com ênfase no desenvolvimento de instrumental específico para pesquisas na área.

Em meio a todas estas atividades o Prof. Oscar sempre reserva um tempo para o lazer, dividido entre a leitura, o teatro e o cinema. "O último livro que li e gostei foi 'Viva o Povo Brasileiro', de João Ubaldo Ribeiro, aliás um de meus escritores preferidos. Gosto muito da maneira como ele utiliza a sátira para retratar a realidade", revela. Outros autores que disputam a preferência do pesquisador são Machado de Assis e Gabriel Garcia Marques. Já em matéria de cinema conta ter tido uma agradável surpresa com "Central do Brasil", de Walter Salles Jr.

Integração na Universidade

Durante a entrevista fica evidente que a universidade ocupa um grande espaço na vida do pesquisador. Rosa Mattos reafirma que a integração entre a graduação e a pós foi uma determinante em sua formação. "Estudei na Escola de Engenharia da UFRJ, num departamento em que esta troca é intensa", lembra. Na opinião do professor essa integração falha no Centro de Tecnologia, o que termina provocando, entre outras coisas, a duplicação de recursos e esforços. "Esta é uma experiência muito rica e gostaria que a COPPE investisse mais neste sentido".

O pesquisador também se mostra preocupado com a situação da universidade pública. "Acho que atualmente a universidade está vivendo uma crise terrível de falta de objetivos" explica o professor. Segundo ele, nessa situação de crise a UFRJ está perdendo a já assegurada liderança nacional. "Minha preocupação é que isso afete nossa força para resistir às pressões externas. - alerta.

  • Publicado em - 23/12/1998