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/Willy Lacerda: mestre da geotecnia
Referência na pesquisa e no ensino de geotecnia no Brasil, o professor Willy Lacerda formou, no decorrer de mais de 40 anos de trajetória profissional, toda uma geração de professores e pesquisadores que hoje atuam em várias universidades e institutos de pesquisa, no Brasil e no exterior.
Segundo Willy, o seu interesse pela área de geotecnia começou no quarto ano do curso de graduação e deve-se ao engenheiro Fernando Emannuel Barata, seu professor na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil. “Com ele, pude perceber que havia muito mais a ser investigado na área de solos, muito coisa restava a ser explicada. É uma área que requer muito mais da imaginação do engenheiro. Era um novo continente a ser descoberto”, relembrou o professor.
Ao concluir a universidade, em 1958, foi trabalhar na empresa Tecnosolo, onde ganhou bastante experiência enfrentando os problemas do dia a dia na área de mecânica dos solos. A convite dos professores Fernando Barata e Jacques de Medina, trabalhou no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) da Guanabara, onde permaneceu de 1964 a 1966. Com as chuvas torrenciais que atingiram o estado do Rio nos anos 1966 e 1967, passou a integrar o corpo técnico do Instituto de Geotécnica. Ainda guarda na memória a tragédia provocada por um deslizamento ocorrido em Laranjeiras em 1966, que resultou em 200 mortes. “Essa tragédia me marcou muito. Vistoriamos as 88 obras em execução no estado, encaminhando soluções de contenção e de reabilitação de encostas. Nessa época, trabalhamos e aprendemos muito”, afirma.
Foi nesse período que Willy decidiu pelo mestrado e escolheu a Universidade de Berkeley, onde eram desenvolvidos estudos de fluência de solos, fenômeno sempre presente nos eventos de encostas. Aceito pela universidade, teve de adiar sua ida por mais um ano. Mas por um bom motivo: por indicação do professor Luiz Bevilacqua, foi convidado pelo fundador da Coppe, Alberto Luiz Coimbra, para ser professor assistente do pesquisador holandês Willem van Leydjen. Depois dessa experiência, partiu com a esposa e os quatro filhos para a Califórnia, onde permaneceu por quatro anos e concluiu o mestrado e o doutorado.
De volta à Coppe, em 1972, já como professor do Programa de Engenharia de Civil (PEC), atuou na montagem do primeiro Laboratório de Mecânica dos Solos da instituição. Desde então, teve intensa atuação no programa e na instituição: coordenou a Área de Mecânica dos Solos, de 1974 a 1977, e o Laboratório de Mecânica dos Solos, de 1978 a 1979. Em 2010, é agraciado com o título de professor Emérito da UFRJ. Ao todo, são 42 anos de efetiva dedicação à universidade.
Willy Lacerda orientou, até hoje, 63 teses de doutorado e dissertações de mestrado e publicou cerca de 130 textos científicos. Editou o livro Landslides:Evaluation & Stabilization, pela Balkema, em 2004, e coordenou o livro Tormentas cariocas, publicado pela Coppe em 1996, que contou com a colaboração de pesquisadores da Coppe, da UFRJ e de outras instituições estaduais e municipais.
Entre os trabalhos desenvolvidos no decorrer de sua carreira, Willy destaca a atuação no Instituto de Pesquisa Rodoviário IPR/DNER, de 1974 a 1980, no qual coordenou o grupo de pesquisas em argilas moles que envolvia pesquisadores da UFRJ e da PUC-Rio. O estudo proposto pelo professor da Coppe tinha o objetivo de conhecer as propriedades do solo da Baixada Fluminense, auxiliando nos projetos de aterros sobre solos moles. Outro importante trabalho coordenado pelo professor foi o monitoramento das obras geotécnicas das escavações do Metrô do Rio, entre 1974 a 1982. “Esses dois trabalhos foram bastante profícuos, deram origem a muitas teses defendidas na Coppe.”
O professor também destaca o suporte do projeto Pronex, financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para estudos de problemas de reabilitação de encostas e planícies. O financiamento desse projeto, coordenado por Willy Lacerda, de 1998 a 2010, possibilitou a integração de várias universidades.
Embora esteja aposentado da universidade desde 2006, Willy não para de trabalhar. As vistorias de encostas que começaram na década de 1960 prosseguem até hoje. “É a minha especialidade. Aprendi a lidar com vários tipos de solo e também com o escorregamento de um tipo de solo pouco conhecido, que são os depósitos coluvionares e residuais em encostas, que será tema do meu próximo livro”, antecipa.
Até 2014, o professor estará à frente do Instituto Geotécnico de Reabilitação do Sistema Encosta–Planície (Reageo), que conta com a participação do GEOHECO do Instituto de Geociências da UFRJ e de universidades e centros de pesquisas do Brasil e do exterior. Em setembro de 2010, passou duas semanas na Itália, onde a convite da Universidade de Salerno foi um dos professores de um curso do sobre riscos em encostas para 40 estudantes de doutorado de vários países. Seus trabalhos em engenharia de encostas em solos tropicais úmidos tornaram-se referência mundial.
Professor dedicado, seus alunos e ex-alunos, hoje em universidades e empresas, o reverenciam como “verdadeiro guru”. A curiosidade científica, determinação, alegria e irreverência são qualidades tidas como exemplo pelos seus colegas de trabalho e alunos. “Estou aposentado, mas jamais estive tão ativo. Não vou descansar nunca”, diverte-se. E todos nós agradecemos.
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Publicado em - 04/10/2010